A D. Aida Celeste Reis, de 78 anos de idade, lembra-se muito bem desse trabalho e explica-nos com uma grande precisão em que o mesmo consistia. E descreve-nos: “primeiro colocava-se a lenha, aquecia-se o forno e depois varria- -se o brasume e as cinzas para a rua com uma vassoura de giesta. Tudo tinha que ser bem varrido”. De seguida colocava-se “um bocado de palha”, humedecia-se e “metiam- se os figos”. Tapava-se a porta com uma laje própria para esse efeito e aí ficavam durante dois ou três dias antes de serem retirados. “Já sequinhos, ficavam aqueles figos tão bonitos, parece que assim ‘acereijadinhos’, muito bonitos”. Esses figos eram vendidos a intermediários que depois os colocavam no mercado das vilas e das cidades do país.
O Sr. Álvaro António Marques, 79 anos, de Vilarinho da Castanheira, fala-nos do figo seco como o “peguilho” dos pobres.“Antigamente o ‘peguilho’ dos pobres era o figo. Andava muita gente à jeira, com uma enxada desde o nascer do sol ao pôr, e a alimentação era o figo e o pão que não havia posses para comprar queijo nem carne. Às vezes pegavam em dois ou três figos, um golo de aguardente e estavam comidos e tinham de ir assim para o trabalho. Era difícil nesse tempo a vida.”
“Fornos de Secar Figos 1” é um ficheiro de áudio que integra a componente audiovisual do Museu da Memória Rural de Vilarinho da Castanheira (Carrazeda de Ansiães),integrando os eu espólio multimédia de recolas orais realizadas no Vale do Tua.