Nos socalcos pendurados sobre a sinuosidade selvagem do curso fluvial do Tua, recentemente domesticado, havia imensos fornos de secar figos. Todos colocados estrategicamente nos extremos dos geios, para não roubarem espaço à terra arável que era contida como uma preciosidade por muros e muretes, numa armação do terreno desenhada a jeito de cultivar a vinha, mas também as favas temporãs, as oliveiras centenárias, as sementeiras de batata, os pomares de laranjeiras e tantas outras árvores de fruto, sem esquecer a figueira que teve um tempo áureo de sucesso e proliferação nesta agreste mas laborada paisagem, devido à procura que havia do figo seco num passado não muito distante.
Foi em São Mamede de Ribatua, Amieiro, Carlão, Franzilhal e Santa Eugénia, no lado do concelho de Alijo, e em Foz Tua, Parambos, Lavandeira, Pombal e Vilarinho da Castanheira, no lado de Carrazeda de Ansiães, assim como em Freixiel, concelho de Vila Flor, que recolhemos o grosso dos dados informativos que nos permitiram a incursão pela memória e pelas técnicas de um processo que parecendo simplista, implica um ancestral saber que é agora nossa intensão preservar pelo registo escrito, pela imagem e pelo registo sonoro, garantindo desse modo a possibilidade de a qualquer momento podermos reativar antigas técnicas que possam acrescentar valor, quer a uma economia agrícola cada vez mais asfixiada pela monocultura, quer a um modus-vivendi e a uma cultura rural que vai morrendo à cadência de um abandono territorial a cada dia mais agudizado.
Os fornos de secar figos proliferaram um pouco por toda a área geográfica designada por Terra Quente Transmontana, mas foi no Vale do Tua e na sua envolvente próxima que centramos a recolha dos dados etnográficos e memoriais que dão corpo ao presente texto.
Atualmente abandonados e sem qualquer utilização com préstimo para o agricultor, estas antigas construções continuam a salpicar a paisagem rural de forma discreta e integrada, persistindo como autênticos vestígios arqueológicos, estruturas rústicas que nos chegam de um passado onde a economia agrícola de subsistência integrava e valorizava sustentadamente todos os recursos que a terra e o clima podiam oferecer.
É expressamente proibido fazer cópias ou reproduções das fotografias contidas nesta galeria, sem a prévia autorização do Museu da Memória Rural.
Autor: © Luis Pereira