Ansiães é terra muito antiga. Uma ancianidade com 5.000 anos de história. A Vila Medieval de Ansiães localiza-se na freguesia de Lavandeira, concelho de Carrazeda de Ansiães, Distrito de Bragança.
A ocupação deste sítio, sucessivamente adaptada às características topográficas do local (um morro granítico que reúne excelentes condições naturais de defesa), passou por várias adversidades, até culminar num processo de apogeu que marcou a história medieval desta localidade.
O estado de ruína em que atualmente se encontra todo o reduto amuralhado, resultou de um processo de abandono iniciado no século XVI e definitivamente concluído em 1734, altura em que os Paços do Concelho foram transladados para Carrazeda, actual sede administrativa desta circunscrição territorial encaixada entre os rios Tua e Douro.
Escavações arqueológicas demonstraram que a ocupação do local iniciou-se há cerca de 5000 anos, durante a fase pré-histórica denominada Calcolítico. Desde essa altura que as sucessivas fases ocupacionais são testemunhadas por interessantes vestígios materiais reveladores de uma longa diacronia que abarca a Idade do Bronze, a Idade do Ferro e toda a fase de romanização do território transmontano.
Durante a fase alti-medieval, o local possuía já uma longa e reminiscente herança cultural, fator decisivo para se estruturar como centro fulcral na zona fronteiriça do rio Douro. Os séculos XII, XIII, XIV e XV, definem um período exponencial de crescimento deste reduto amuralhado. Afonso Henriques em 1160, Sancho I em 1198, Afonso II em 1219 e finalmente D. Manuel I em 1510 reconhecem e promulgam forais à Vila amuralhada de Ansiães.
Ansiães ostenta uma monumental estrutura defensiva formada por dupla muralha de alvenaria granítica. O sistema defensivo organiza dois espaços que se adaptam as caracteristicas morfológicas de um morro erguido na parte terminal sul do planalto carrazedense, numa zona de interface entre o altiplano e os vales encaixados dos rios Douro e Tua. Na cota mais elevada desse morro organiza-se uma primeira plataforma de configuração aproximadamente oval, sendo definida a partir do traçado de uma pequena muralha que se reforça por cinco torreões quadrangulares.
A vila propriamente dita estruturava-se ao longo das pendentes e plataformas que se desenvolvem imediatamente abaixo desse primeiro terraço, formando uma segunda plataforma onde se concentravam as zonas habitacional e produtiva do aglomerado.
É também cingida por uma muralha de pedra de cantaria lavrada e esquadriada que cerca o povoado pelos sectores ocidental, sul, oriental e norte. Esta segunda muralha, com uma extensão superior a 600 metros e apenas três torres quadrangulares, arranca do sector ocidental, junto de um torreão que integra a primeira cerca, desenvolve-se com um traçado algo sinuoso no sentido oriental, segue posteriormente em direção a norte e vem ligar-se, já no sector ocidental, ao pano norte da muralha da plataforma superior, dando origem a um espaço interno de grande dimensão, mas com um perímetro bastante irregular.
Desta planta geral emerge uma organização urbana assente em dois eixos estruturantes que acompanham a rota dos pontos cardiais. Um primeiro eixo de ligação interna arranca a norte, junto da porta de S. Francisco e dirige-se para sul, culminando na porta de Fonte de Vedra. O segundo, parte da Porta da Vila, a oriente, e vem culminar no outro extremo ocidental, junto da porta de São João Baptista. A partir destes fulcros estruturantes
partem depois pequenas ruas, vielas e arruamentos que organizam o intrincado da malha urbana.
O processo dinâmico que conduziu à monumentalidade de Ansiães testemunha o seu antigo prestígio na região transmontana, e ao longo de toda a Idade Média impõe-se como um importante reduto na região duriense e transmontana.
A dimensão e imponência desta vila medieval permitem adivinhar áureos momentos do seu secular desenvolvimento.
Contudo, os finais do século XV, e particularmente o século XVI, marcam o início de uma transformação demográfica traduzida numa perda cada vez mais acentuada da importância urbana do reduto amuralhado. É certo que em 1443 o rei D. Afonso V atribui aos besteiros de Ansiães grandes privilégios e isenções, e que em 1510 o rei D. Manuel I outorga-lhe novo foral. Todavia, uma tendência de carácter depressivo atingira já o local, e em 1527 algumas aldeias que constituíam o município contavam com uma população superior à de Ansiães.
Nas centúrias seguintes este movimento acabou por se agudizar, culminando na transferência dos Paços do Concelho para Carrazeda, ato que ocorreu em 1734 pelo facto de no antigo reduto residir um número bastante reduzido de pessoas, dando-se assim início ao abandono de um local que foi ininterruptamente ocupado ao longo de 5.000 anos.